Uma chamada. Duas.
Parei de andar em círculos apenas o suficiente para
abrir uma fresta da cortina e olhar pela janela. Franzi a testa quando vi o céu
ainda escuro, mas pensei que estava mais para azul escuro do que para cinza,
começando a mostrar tons de rosa e púrpura no horizonte. Ou seja, tecnicamente,
já era de manhã.
Três dias se passaram desde o sermão de Jensen e,
consequentemente, essa era minha terceira tentativa de ligar para Justin. Mas
mesmo eu não tendo ideia do que iria falar – nem mesmo do que meu irmão esperava
que eu falasse –, quanto mais eu pensava nisso, mais percebia que Jens
estava certo: eu nunca saía do laboratório. O conteúdo da minha geladeira era
salada, sobras de comida chinesa e comida congelada. Toda a minha vida até esse
ponto girava em torno de acabar a faculdade e me lançar numa perfeita carreira
como pesquisadora.
Foi um chamado para a realidade perceber o quão
pouco eu tinha fora desse círculo.
Aparentemente, minha família percebeu isso
primeiro, e por algum motivo eles pensavam que a solução para me salvar da
solteirice era Justin.
Quanto a mim, estava menos confiante nessa solução.
Muito menos.
Admito que nossa história juntos era bem pequena, e
era totalmente possível que ele nem se lembrasse mais de mim. Eu era a pequena
irmãzinha, apenas um pano de fundo para suas muitas aventuras com Jensen e seu
breve caso com minha irmã. E agora eu estava ligando para ele para… o quê? Me
levar para sair? Jogar Banco Imobiliário? Me ensinar como…
Eu nem conseguia terminar esse pensamento.
Pensei em desligar. Pensei em voltar para a cama e
dizer para meu irmão ir se ferrar e parar de me encher. Mas no meio da quarta
chamada, e apertando o telefone com minha mão já embranquecida, Justin atendeu.
— Alô? – sua voz era exatamente como eu me
lembrava, encorpada e profunda, mas ainda mais grave. – Alô? – ele repetiu.
— Justin?
Ele respirou fundo, e eu ouvi um sorriso se
estender por sua voz quando ele falou meu apelido:
— (s/apelido)?
Eu tive que rir; é claro que ele se lembraria de
mim desse jeito. Apenas minha família ainda me chamava assim. Ninguém sabia o
que o meu nome significava – eles deram poder demais ao Eric, que tinha apenas
dois anos quando escolheu o apelido da sua irmãzinha recém-nascida.
— Pois é. É a (s/apelido). Como você sabia…?
— Eu falei com Jensen ontem. Ele me contou tudo
sobre a visita e o chute-no-traseiro verbal que ele deu em você. E também
mencionou que você talvez ligasse para mim.
— Bom, aí está – eu disse, boba de tudo.
Ouvi um gemido e o farfalhar de lençóis. Eu
absolutamente não tentei imaginar o tipo de nudez que estava do outro lado da
linha. Mas o nó em meu estômago subiu direto para minha garganta quando a ficha
caiu: ele parecia cansado porque estava dormindo. Certo, então acho que
tecnicamente ainda não era de manhã.
Dei outra olhada pela janela.
— Eu não acordei você, não é?
Eu nem tinha olhado para o relógio ainda, e agora
estava com medo de olhar.
— Tudo bem. Meu alarme está prestes a tocar, de
qualquer maneira… – ele fez uma pausa e bocejou. – … daqui a uma hora. –
Segurei um gemido de mortificação. –
— Desculpe. Acho que eu estava um pouco… ansiosa.
— Não, não, tudo bem. Não acredito que esqueci que
você agora mora aqui na cidade. E ouvi dizer que você se enfurnou num
laboratório nos últimos três anos.
Meu estômago se revirou um pouco ao ouvir a maneira
como sua voz ficou mais rouca ao me provocar.
— Pelo jeito você está do lado de Jensen.
Seu tom de voz suavizou.
— Ele só está preocupado com você. Sendo seu irmão
mais velho, esse é o trabalho favorito dele.
— É o que dizem…
Voltei a andar em círculos pelo quarto, precisando
fazer alguma coisa para conter meu nervosismo. Adorei ele ter notado esse lado
de Jensen.
— Eu deveria ter ligado antes…
— Eu também.
Ele se ajeitou e pareceu ter se sentado. Ouvi seu
gemido quando se espreguiçou e fechei meus olhos. Parecia exatamente,
precisamente e perturbadoramente como sexo.
Respire pelo nariz, (seunome). Fique calma.
— Você quer fazer alguma coisa hoje? – eu falei de
uma vez só. E a minha calma foi para o espaço.
Ele hesitou, e eu quase dei um soco em mim mesma
por não ter pensado que ele poderia ter outras coisas para fazer. Como
trabalho. E depois do trabalho, talvez tivesse planos para sair com uma
namorada. Ou uma esposa. De repente, fiquei congelada esperando ouvir qualquer
som que quebrasse aquele silêncio.
Após uma eternidade, ele perguntou:
— O que você tem em mente?
Pergunta difícil.
— Jantar?
Justin fez uma pausa que durou vários dolorosos
segundos.
— Humm, eu tenho uma reunião até tarde hoje. Que
tal amanhã?
— Tenho laboratório. Marquei uma maratona de
dezoito horas com umas células que estão crescendo super lentamente e vou me
matar se eu estragar tudo e tiver que começar de novo.
— Dezoito horas? Isso é um dia bem longo, (s/apelido).
— Eu sei.
Ele pensou um pouco antes de perguntar:
— Que horas você precisa chegar lá agora de manhã?
— Mais tarde – eu disse, olhando para o relógio e
estremecendo. Eram apenas seis horas. – Lá pelas nove ou dez.
— Você quer ir até o parque comigo para correr?
— Você corre? – perguntei. – Tipo, de propósito?
— Sim – ele disse, praticamente rindo. – Não como
se estivesse fugindo de algo, mas, você sabe, como se estivesse me exercitando.
Fechei meus olhos com força, com um familiar
sentimento de obrigação, como se fosse um desafio ou uma tarefa idiota da
escola. Maldito Jensen.
— Quando?
— Daqui meia hora?
Olhei novamente pela janela. O sol mal estava
nascendo. Tinha neve na rua. É hora de mudança, lembrei a mim mesma. E
com isso, fechei os olhos e disse:
— Mande uma mensagem com o lugar. Eu te encontro
lá. Estava frio. Mais precisamente, frio de congelar a bunda.
Reli a mensagem de Justin, que dizia para eu
encontrá-lo no Engineers Gate, na Quinta Avenida com a Rua 90, no Central Park,
e fiquei andando em círculos novamente para tentar me aquecer. O ar da manhã
queimava meu rosto e atravessava o tecido da minha calça. Eu deveria ter
trazido um chapéu. Eu deveria ter lembrado que estamos no mês de fevereiro e em
Nova York, e apenas os malucos vão para o parque no mês de fevereiro em Nova
York. Eu não conseguia sentir meus dedos e estava legitimamente preocupada que
o ar frio e o vento gelado pudessem fazer minhas orelhas caírem.
Havia apenas um punhado de pessoas ao redor: alguns
corredores super determinados e um jovem casal abraçado num banco debaixo de
uma árvore gigante, cada um segurando um copo de algo que parecia quentinho e
delicioso. Um bando de pássaros cinzentos bicava o chão, e o sol apenas espiava
sobre os arranha-céus ao longe.
Na maior parte da minha vida eu vivi entre ser
socialmente apropriada e ser uma geek que fala pelos cotovelos, então é
claro que eu já me senti fora da minha praia antes: quando recebi o prêmio pela
minha pesquisa na frente de centenas de pais e estudantes no MIT. E agora,
enquanto o céu ficava cada vez mais claro, eu encararia sem reclamar qualquer
uma dessas lembranças só para poder escapar desta situação.
Não é que eu não estivesse a fim de correr… tá bom,
na verdade, era isso mesmo. Eu não queria sair correndo por aí. E não
estava com medo de encontrar Justin. Eu estava apenas nervosa. Eu me lembrava
de como ele era – sempre havia algo de hipnótico sobre sua atenção. Algo sobre
ele que exalava sexo. Eu nunca tive que interagir com ele sozinha e fiquei
preocupada de simplesmente não possuir a compostura para isso.
Meu irmão me passou uma tarefa – vá viver sua vida
mais intensamente – sabendo que se existia um jeito de assegurar minha
dedicação em alguma coisa, era me fazer pensar que eu estava falhando. E embora
eu soubesse que essa não era sua intenção quando sugeriu isso, eu precisava
entrar na cabeça de Justin, aprender com o mestre e me tornar mais parecida com
ele.
Eu apenas precisava fingir que estava numa missão
secreta: entrar, sair e escapar ilesa.
Diferente de minha irmã.
Depois que minha irmã de dezessete anos ficou com
Justin, baixista e com dezenove anos, naquele Natal, eu aprendi muito sobre o
que acontece quando uma adolescente fica caidinha por um bad boy. E Justin
Bieber era o bad boy em pessoa.
Todos eles queriam a minha irmã, mas Liv nunca quis
ninguém do mesmo jeito que ela queria Justin.
— (s/apelido)!
Girei a cabeça imediatamente em direção àquela voz
e tive que olhar duas vezes enquanto o homem em questão andava na minha
direção. Ele parecia mais alto do que eu lembrava e tinha o tipo de corpo que
era longo e esguio, um torso que parecia não acabar mais e membros que deveriam
deixá-lo desajeitado, mas que por algum motivo não deixavam. Sempre existiu algo
sobre ele, algo magnético e irresistível que não tinha nada a ver com um
visual simétrico clássico, mas minha memória de Justin de apenas quatro anos
atrás não era nada diante do homem que tinha acabado de chegar.
Seu sorriso ainda era o mesmo: levemente torto,
como se estivesse escondendo algo, e sempre duradouro, deixando uma constante
sensação de malícia em seu rosto. Enquanto se aproximava, ele olhou de relance
para o lado e eu reparei o contorno de seu queixo e o longo pescoço bronzeado
que desaparecia debaixo da gola de sua blusa.
Quando ele se aproximou, seu sorriso aumentou.
— Bom dia – ele disse. – Achei que era você quando
vi de longe. Lembro que você costumava andar de um lado para o outro desse
jeito quando ficava nervosa sobre a escola ou algo assim. Deixava sua mãe
maluca.
E, sem pensar, dei um passo para frente e o
abracei. Acho que nunca tinha ficado tão perto dele assim. Pude sentir o calor
e os músculos de seu corpo; fechei os olhos quando senti seu rosto pressionado
no topo da minha cabeça.
Sua voz grave parecia reverberar através de mim.
— É muito bom ver você de novo.
Relutantemente, dei um passo para trás, inalando o ar
fresco misturado com o perfume de seu sabonete.
— É bom ver você também.
Seus olhos castanhos claros olharam para mim
debaixo de um gorro preto, que mal cobria as mechas de seu cabelo claro. Ele se
aproximou e colocou algo na minha cabeça.
— Achei que você podia precisar disso.
Passei a mão e senti um gorro de lã grossa. Uau,
isso foi inesperadamente encantador.
— Obrigada. Acho que minhas orelhas não vão cair,
afinal de contas.
Ele sorriu e se afastou novamente, olhando-me de
cima a baixo.
— Você parece… diferente, (s/apelido).
Eu ri.
— Ninguém além da minha família me chama assim, faz
tempo.
Seu sorriso murchou e ele observou meu rosto por um
momento, como se procurasse meu nome verdadeiro tatuado na minha testa. Ele só
me chamava de (s/apelido), igual meus irmãos – Jensen, claro, mas também Liv.
Até sair de casa, eu sempre fui (s/apelido).
— Bom, então como é que seus amigos te chamam?
— (seunome) – eu disse silenciosamente.
Ele sorriu para mim e continuou a me encarar. Olhou
meu pescoço, meus lábios, e então pareceu inspecionar meus olhos. A energia
entre nós era palpável… mas não. Eu provavelmente estava errando minha
interpretação da situação. Esse era precisamente o perigo com Justin Bieber.
Lembre-se, você é uma agente secreta, (seunome).
— Então – comecei a falar, erguendo minhas
sobrancelhas. – E essa tal corrida?
Justin piscou de volta para a realidade.
— Ah, é.
Ele assentiu e puxou seu gorro até cobrir as
orelhas. Justin parecia tão diferente — todo arrumado e bem-sucedido – mas,
olhando bem, eu ainda podia enxergar as marcas quase apagadas onde ficavam seus
brincos.
— Primeiro – ele disse, e eu rapidamente voltei a
atenção de volta para seu rosto – eu quero que você fique atenta com o gelo
sujo. Eles fazem um bom serviço limpando as trilhas, mas se você não prestar
atenção, pode realmente se machucar.
— Certo.
Ele apontou para o caminho estreito em torno da
água congelada.
— Este é o circuito inferior. Ele dá a volta no
reservatório e é perfeito para nós, porque tem poucas inclinações.
— E você corre aqui todos os dias?
Justin soltou uma risada, balançando a cabeça.
— Não. Esta pista tem apenas dois quilômetros e
meio. Já que você está apenas começando, vamos andar pelo começo e pelo fim da
pista, e correr só no meio.
— Por que não corremos na sua pista de sempre? –
perguntei, não gostando da ideia de mudar sua rotina por minha causa.
— Porque eu corro quase dez quilômetros.
— Eu consigo fazer isso também – eu disse. Dez
quilômetros não pareciam ser tão difíceis. Quer dizer, são dez mil metros… e
então senti meu sorriso se esvair quando considerei isso.
Ele acariciou minha cabeça com uma paciência
exagerada.
— É claro que consegue. Mas primeiro vamos ver como
você se sai hoje, depois conversamos.
E depois disso? Ele deu uma piscadela.
Então, aparentemente eu não sou uma boa atleta.
— Você faz isso todo dia? – eu disse, arfando.
Ele confirmou, como se estivesse apenas
aproveitando um passeio leve pela manhã. Eu sentia que estava prestes a cair
morta no asfalto.
— Falta quanto?
Ele olhou para mim, usando um sorriso convencido –
e delicioso.
— Meio quilômetro.
Oh, Deus.
Eu me endireitei e ergui o queixo. Eu chegaria até
o final. Eu era jovem e tinha… relativa boa forma. Passava o dia inteiro de pé,
corria de sala em sala no laboratório, e sempre usava as escadas quando chegava
em casa. É claro que eu sobreviveria até o final.
— Bom… – eu disse. – Eu me sinto ótima.
— Não está mais com frio?
— Nem um pouco.
Eu podia sentir o sangue bombeando em minhas veias
e a potência do meu coração dentro do peito. Nossos pés batiam com força na
pista, e não, eu definitivamente não estava mais com frio.
— Além de ficar ocupada o tempo todo – ele
perguntou, sem perder nem um pouco do fôlego – você gosta do seu trabalho?
— Amo – respondi ofegando. – Adoro trabalhar com o
Liemacki.
Conversamos um pouco sobre meu projeto e as outras
pessoas no laboratório. Ele conhecia a reputação do meu orientador de pós no
campo da vacinação, e eu fiquei impressionada ao ver que Justin lia bastante;
mesmo sobre um campo que ele mesmo disse que nem sempre é a melhor aposta no
mundo dos investimentos de risco. Mas ele estava curioso sobre outras coisas
além do meu trabalho; ele queria saber sobre a minha vida, e perguntou
sem rodeios.
— Minha vida é o laboratório – eu disse, olhando de
relance para ver seu nível de julgamento. Ele mal piscou. Tive alguns amigos na
faculdade, e um exército de professores da pós pedindo trabalhos. Mas, com
exceção das duas pessoas no laboratório que eram mais próximas de mim, eu não tinha
realmente aquilo que se chamaria de amigos. – Eles são ótimos – expliquei,
engolindo em seco antes de tomar um grande fôlego. – Mas os dois são casados e
têm filhos. Não são de sair depois do trabalho para beber e jogar sinuca.
— Acho que as mesas de sinuca não ficam abertas
depois do seu trabalho, de qualquer maneira – ele disse em tom provocador. –
Não é por isso que você está aqui? Para tentar sair da sua rotina?
— Certo – eu ri. – Apesar de ter ficado irritada
quando Jensen disse na minha cara que eu precisava de uma vida, ele não estava
exatamente errado – fiz uma pausa, correndo mais alguns passos. – Estive
tão focada no trabalho por tanto tempo, tentando superar o próximo obstáculo, e
depois o próximo, que acho que nunca parei para simplesmente aproveitar um
pouco.
— Sei – ele concordou silenciosamente. – Isso não é
bom.
Tentei ignorar a pressão de seu olhar e mantive
meus olhos colados na trilha à nossa frente.
— Você às vezes sente que as pessoas de quem mais
gosta não são as pessoas com quem você mais convive?
Quando ele não respondeu, eu acrescentei:
— Ultimamente, sinto que não estou colocando meu
coração onde realmente importa.
Com minha visão periférica, eu vi seu rosto
desviando o olhar e assentindo. Demorou uma eternidade para ele dizer algo,
mas, quando respondeu, apenas murmurou:
— É, eu entendo isso.
Um momento depois, olhei para ele ao ouvir sua
risada. Era um som profundo que vibrou pela minha pele e pelos meus ossos.
— O que você está fazendo? – ele perguntou.
Segui seus olhar até onde meus braços estavam
cruzados sobre meu peito.
— Meus peitos estão doendo. Como vocês homens
conseguem correr desse jeito?
— Bom, para começar, nós não temos… – e ele fez um
gesto vago mostrando meu peitoral.
— Mas e quanto às outras coisas? Tipo, vocês correm
usando cueca boxer por acaso?
Puta merda, o que há de errado comigo? Problema
número um: não tenho um filtro verbal. Nunca fui
muito boa quando se trata de sutilezas, mas algo sobre estar perto de Justin me
fazia perder qualquer conexão inibidora entre meu cérebro e minha boca.
Ele olhou para mim de novo, confuso, e quase
tropeçou num galho caído no chão.
— Como é?
— Boxer – repeti bem lentamente. – Ou vocês
usam alguma coisa para proteger suas partes masculinas e evitar…
Ele me interrompeu com uma risada alta que ecoou
pelas árvores no meio do ar gelado.
— Meu Deus…
— Estou apenas curiosa – eu disse.
— Então, nada de cuecas boxer – ele
continuou, depois de se recuperar da risada. – Teria coisas demais se movendo
de um lado para o outro. Principalmente no meu caso.
— Por quê? Você tem mais de um saco? – provoquei.
Ele me jogou um olhar divertido.
— Se você quer mesmo saber, eu uso cuecas próprias
para esportes. São bem justas para manter tudo no lugar com segurança.
— É, acho que as garotas têm sorte nesse sentido.
Nada naquele lugar para – movi meus braços ao redor – balançar para todo lado.
Nós somos compactas ali embaixo.
Chegamos numa parte plana da pista e começamos a
caminhar. Justin estava rindo baixinho ao meu lado.
— Percebi.
— Bom, você é o especialista no assunto.
Ele jogou um olhar cético.
— Como é?
Por uma fração de segundo, meu cérebro tentou
filtrar os pensamentos, mas era tarde demais.
— Humm… especialista em xanas – sussurrei, quase
sem pronunciar direito o final da frase.
Seus olhos se arregalaram, seus passos diminuíram o
ritmo.
Eu parei totalmente e tentei recuperar o fôlego.
— Foi você mesmo quem disse.
— Quando foi que eu disse que era um especialista
em xanas?
— Você não se lembra de quando falou isso para nós?
Você disse que o Jensen era bom com as palavras. E você era bom com as ações. E
depois ficou mexendo as sobrancelhas.
— Isso é horrível. Como diabos você se
lembra disso?
Eu me endireitei.
— Eu tinha doze anos. Você era um amigo gostosão do
meu irmão de dezenove anos que ficava fazendo piada sobre sexo na nossa casa.
Você era praticamente uma criatura mítica.
— Então por que eu não me lembro de nada disso?
Dei de ombros, olhando para a pista, que agora
estava cheia.
— Provavelmente pela mesma razão.
— Também não me lembro de você ser tão engraçada.
Ou assim, tão… – ele levou um instante para me olhar de cima a baixo – …
crescida.
Eu sorri.
— Eu não era.
Justin levou as mãos até as costas e puxou a blusa
de moletom por cima da cabeça. Ele usava uma camisa regata por baixo e, quando
seus braços ficaram expostos, senti uma pontada no meio do meu peito.
Ele coçou seu pescoço, sem perceber a maneira como
meus olhos percorriam seu braço. Eu tinha muitas memórias de Justin daquele
verão em que ele trabalhou para o meu pai e morou conosco: lembro-me de sentar
no sofá com ele e Jensen para assistir filmes, lembro-me dele passando pelo
corredor durante a noite usando apenas uma toalha enrolada na cintura,
lembro-me de quando ele devorava o jantar após um longo dia de trabalho no
laboratório. Mas, com certeza por influência de alguma magia negra, por algum
motivo, eu tinha me esquecido das tatuagens. Vendo-as agora, eu podia me
lembrar de uma coroa em seu ombro, do outro lado algarismos romanos algo como I
IX VII V que formavam os numerais 1975 suposta data de nascimento de sua mãe.
Mas as outras eram novas.
Redemoinhos de tinta formavam um felino descendo
perto do centro de um de seus antebraços; no outro lado, havia o desenho de um
coringa visível debaixo da manga da camiseta. Justin permaneceu em silêncio, e
quando olhei em seu rosto, vi que ele estava sorrindo para mim.
— Desculpe – murmurei, sorrindo timidamente. –
Percebi que você tem tatuagens novas.
Sua língua molhou rapidamente seus lábios.
— Não se desculpe. Eu não teria feito se não
quisesse que as pessoas olhassem para elas.
— E você não tem problemas? Com o trabalho e tudo
mais?
Ele murmurou, dando de ombros:
— Mangas longas, terno. A maioria das pessoas não
sabe que elas existem.
O problema com isso era que não me fazia pensar na maioria
das pessoas que ignorava as tatuagens. Fazia-me imaginar quem eram as
pessoas que conheciam cada linha de tinta em sua pele.
Os perigos de Justin Bieber, eu me lembrei. Basta uma frase e você já está pensando nele pelado.
Pisquei de volta para o presente, tentando pensar em outro assunto.
— Então, e como vai a sua vida?
Ele me olhou, cauteloso.
— O que você quer saber?
— Você gosta do seu trabalho?
— Na maioria dos dias.
Respondi com um sorriso.
— Você viaja para ver sua família de vez em quando?
Seus pais e seus irmãos moram em Washington, não é?
Lembrei que Justin tinha dois irmãos bem mais novos
que moravam perto de seu pai e sua mãe que são separados a um bom tempo.
— Oregon – ele corrigiu. – E sim, umas duas vezes
por ano.
— Você está saindo com alguém? – eu disse num
impulso.
Ele apertou as sobrancelhas como se não tivesse
entendido a pergunta direito. Depois de um instante, ele respondeu:
— Não.
Sua adorável reação confusa me ajudou a esquecer o
quanto minha pergunta era inapropriada.
— Você realmente precisou pensar para responder?
— Não, sua espertinha. E não, não existe ninguém
que eu apresentaria a você dizendo: “Ei, (s/apelido), está aqui é a
fulana-de-tal, minha namorada”.
Respondi com a cabeça, estudando-o.
— Que evasiva específica.
Ele tirou o gorro e correu os dedos pelos cabelos.
Seus fios rebeldes estavam molhados com suor e espetadas em todas as direções.
— Nenhuma mulher chamou sua atenção?
— Algumas, sim.
Ele virou os olhos para mim, não querendo fugir da
minha interrogação. Disso eu me lembrava sobre Justin: ele nunca sentia a
necessidade de se explicar para ninguém, mas também não fugia de nenhuma
pergunta.
Caramba, eu me esqueci do quanto sua personalidade
era magnética. Olhei para seu peito, que subia e descia com respirações
rápidas, e para os ombros musculosos, que terminavam no pescoço bronzeado e
macio. Seus lábios se abriram e sua língua apareceu para molhá-los novamente.
Seu queixo era esculpido e coberto com uma barba rala. Senti uma súbita e
esmagadora vontade de tocar aquela barba com minhas coxas.
Meus olhos seguiram para seus braços fortes
novamente, passaram pelas mãos relaxadas ao seu lado – e puta merda, aqueles
dedos provavelmente sabiam fazer muitas coisas – seguiram pela barriga lisinha
e chegaram na frente da calça de corrida que me dizia que Justin Bieber, mesmo
quando relaxado, não tinha nada a esconder debaixo da cintura. Meu bom Deus do
céu, eu queria transar com ele até tirar aquele sorrisinho convencido de seu
rosto.
Um silêncio se estendeu entre nós, e o
constrangimento apareceu. Lembrei que eu não vivia atrás de um vidro espelhado:
Justin podia ver cada uma das reações no meu rosto. Seus olhos se tornaram
sombrios ao me estudar, e ele percebeu exatamente o caminho que minha mente
tomou. Ele se aproximou, observando-me de cima a baixo como se inspecionasse um
animal preso numa armadilha. Um lindo e mortal sorriso surgiu em sua boca.
— Qual é o veredito?
Engoli em seco, fechando os punhos das minhas mãos
suadas, e apenas disse:
— Justin?
Ele piscou, e então piscou de novo, dando um passo
para trás e parecendo se lembrar de nossa situação. Eu podia praticamente ver
sua mente maquinando: “Esta é a irmãzinha do Jensen… Ela é sete anos mais nova
do que eu… Eu fiquei com a Liv por um tempo… Esta garota é uma nerd, pare de
pensar com o seu pênis”. Justin estremeceu de leve.
Eu relaxei, achando sua reação divertida. Justin
tinha uma infame expressão indecifrável… mas não aqui, e não comigo. Essa percepção
enviou um raio de confiança em meu peito: ele pode ser quase irresistível e o
homem mais naturalmente sensual do planeta, mas esta garota aqui consegue, sim,
lidar com Justin Bieber.
— Então – eu disse – ainda não está pronto para
casar e sossegar?
— Definitivamente, não – seu sorriso aumentou num
canto da boca, e ele parecia completamente destrutivo. Meu coração e minhas
partes íntimas não sobreviveriam uma noite sequer com este homem.
Ainda bem que isso não é uma opção, vagina. Sossega
aí.
Voltamos para o começo da trilha, e Justin
encostou-se a uma árvore.
— Então, por que você está entrando no mundo dos
vivos agora?
Ele inclinou a cabeça ao voltar o foco da conversa
para mim.
— Sei que Jensen e seu pai querem que você tenha
uma vida social mais ativa, mas vamos lá. Você é uma garota bonita, (s/apelido).
Não é possível que ninguém tenha pedido para sair com você.
Mordi meu lábio por um segundo, achando divertido
que Justin pensasse que, para mim, tudo se resumia a sexo. Mas a verdade era
que… ele não estava de todo errado. E não havia julgamento em sua expressão,
nem um distanciamento estranho com um assunto tão pessoal.
— Não é que eu não tenha saído com alguns caras.
Acontece que eu não sou boa nessa coisa de encontros casuais – eu disse,
lembrando-me do meu mais recente e completamente entediante encontro. – Sei que
pode ser difícil enxergar por trás de todo esse meu constrangimento charmoso,
mas eu não sou muito boa nesse tipo de situação. O Jensen me contou suas
histórias. Você conseguiu se formar no doutorado com todas as honras enquanto
ao mesmo tempo transava sem parar. E aqui estou eu, num laboratório com pessoas
que parecem considerar o constrangimento social um campo de estudo. Eles não
são muito de experimentar a fruta, se é que você me entende.
— Você é jovem, (s/apelido). Por que está se
preocupando com isso agora?
— Não estou preocupada com isso, mas já
tenho vinte e quatro anos. Meu corpo funciona plenamente, e minha cabeça está
cheia de pensamentos interessantes. Eu apenas queria… explorar. Você não
pensava nessas coisas quando tinha minha idade?
Ele deu de ombros.
— Não me lembro de ficar estressado por causa
disso.
— É claro que não. Você erguia uma sobrancelha e as
calcinhas automaticamente caíam no chão.
Justin lambeu os lábios e coçou o pescoço.
— Você é uma figura, sabia?
— Sou uma cientista, Justin. Se vou mesmo
fazer isso, preciso aprender como os homens pensam, preciso entrar na cabeça
deles – respirei fundo e o observei com cuidado antes de dizer: – Me ensine.
Você disse para meu irmão que me ajudaria. Então ajude.
— Tenho certeza de que ele não quis dizer: “Ei,
mostre a cidade para minha irmãzinha, veja se ela não está gastando demais no
aluguel e, a propósito, ajude ela a transar por aí” – suas sobrancelhas negras
se juntaram quando algo pareceu lhe ocorrer. – Você está pedindo para eu
apresentar algum amigo meu?
— Não. Deus me livre – não sei se eu queria
rir ou cavar um buraco para me esconder até a eternidade passar. – Quero
sua ajuda para aprender… – dei de ombros e cocei meu cabelo debaixo do gorro. –
Como me comportar em encontros. Me ensine as regras.
— Não sei se sou o mais qualificado para ajudar
você a conhecer caras.
— Você estudou em Yale.
— Sim, e daí? Isso foi há anos atrás, (s/apelido).
E acho que isso não fazia parte da grade curricular.
— E você tocava numa banda – continuei, ignorando
seu último comentário.
Seus olhos mostravam seu divertimento. – E daí?
— E daí que eu estudei no MIT e jogava Dungeons
& Dragons e Magic. E daí que ex-estudantes de Yale que jogavam lacrosse e
tocavam numa banda podem ter mais ideias de como melhorar a vida sexual de geeks
nerdísticos e quatro olhos.
— Você está tirando sarro de mim?
Ao invés de responder, cruzei os braços sobre meu
peito e fiquei esperando pacientemente.
Foi a mesma postura que adotei quando deveria ter
ficado vagando de laboratório em laboratório para escolher minha pesquisa de
mestrado. Mas eu não queria ficar vagando de laboratório em laboratório; eu queria
mesmo iniciar a minha pesquisa com Liemacki, imediatamente. Fiquei de pé em
frente ao seu escritório, depois de explicar por que sua pesquisa estava
perfeitamente posicionada para se afastar de vacinas virais rumo a
parasitologia, e o que eu pensava que poderia funcionar para a minha tese.
Depois de apenas cinco minutos ele cedeu.
Justin olhava para o horizonte. Eu não sabia se ele
estava considerando o que eu tinha dito ou se estava decidindo se deveria
simplesmente começar a correr e me deixar para trás ofegando.
Finalmente, ele suspirou.
— Certo, bom, a regra número um para ter uma vida
social mais abrangente é nunca ligar para ninguém, com exceção de um taxista,
antes do sol nascer.
Rindo, eu murmurei:
— Pois é. Foi mal.
Ele me estudou, no fim gesticulou para minhas
roupas.
— Vamos correr. Vamos sair e fazer coisas – ele
estremeceu e gesticulou novamente para meu corpo. – Não quero dizer que você
precise fazer algo, mas… merda, sei lá. Você está usando a blusa de moletom do
seu irmão. Me corrija se eu estiver errado, mas tenho a sensação de que esse é
seu jeito normal de se vestir, mesmo quando não sai para correr – ele franziu a
testa. – Apesar de ter lá o seu charme.
— Não vou me vestir como uma vadia.
— Você não precisa se vestir como uma vadia –
ele se endireitou e mexeu nos cabelos antes de colocar o gorro de novo. – Deus.
Você é tão esquentadinha. Você conhece Chloe e Sara?
Neguei com a cabeça.
— São garotas com quem… você não está
saindo?
— Ah, nossa, não – ele riu. – Elas são as garotas
que laçaram meus melhores amigos pelas bolas. Acho que seria bom você
conhecê-las. Juro que vão se tornar melhores amigas ao final da noite.
heey cats obrigado pelos comentários no ultimo e realmente me agrada muito saber que vocês estão a gostar da nova fanfic voltaremos em breve... beijos !!!